quarta-feira, 20 de janeiro de 2016


COMPAZ/Folha Cultural (C/DEDAC...)


O Salgueiro (com seu Samba-Enredo) chega pisando suave, riscando no asfalto os passos de uma ópera bem carioca.
Uma obra em seis atos, embalada por um Samba em homenagem à nata da malandragem.
“A Ópera do Malandro” é aquele samba gostoso, com refrão que não dá vontade de parar de cantar!
“É que eu sou malandro, batuqueiro
Cria lá do morro do Salgueiro
Se não acredita, vem no meu Samba pra ver
O couro vai comer!”
A Música inquietação na roda da Alma...

      O Samba é coisa diferente. Quanto ao seu aspecto de resistência, não há lugar para dúvidas, basta saber ‘ler’ ou escutar a história da música negra. Referindo-se à dança da mana-chica campista, um pesquisador acadêmico não pôde deixar de observar que “a aparente alegria da música brasileira é apenas inquietação: demostra os arrancos dos bandeirantes ambiciosos, o desespero do escravo transplantado, o recalcado rancor do índio espoliado”. Sendo um discurso tático de resistência no interior do campo ideológico do modo de produção dominante – o perpassar por ambigüidades, avanços e recuos, característicos de todo discurso dessa ordem – Portanto, o Samba é ao mesmo tempo um movimento de continuidade e afirmação de valores culturais negros.

O Samba na condição de Arte de Cultura Negra...


          É no interior deste lugar paralelo que o Samba pode ainda em nossos dias, em 2016, numa prática de resistência cultural negro-popular. A margem dos circuitos da produção da indústria cultural dissemina-se uma multiplicidade de lugares, onde a produção musical se dá de forma selvagem ou chorada (como antes o Lundu ou com o Maxixe), em oposição à formulas polidas, estas prescritas pela lei do mercado. Uma boa amostra disto é a posição reativa de muitos sambistas, assim citados veteranos: Manacéia, Aniceto, Casquinha, Mijinha, Monarca, Dona Ivone Lara, Alvarenga.  O Samba, entretanto, é muito mais do que uma peça de espetáculo, com mal definidas compensações financeira. O Samba é o meio e o lugar de uma troca social, de expressões de opiniões, fantasias e frustrações culturais. De continuidade de uma fala (negra) que se resiste, cheia de conteúdos, à sua expropriação cultural. A produção de nosso Samba ainda tem lugar no interior de um universo de sentido alternativo, cujos processos fixados partem da cultura negra-brasileira. Sua geografia, no espaço utópico ( não é mero sonho ou devaneio  nostálgico, mas a instauração ‘filosófica’ de uma ordem alternativa, onde se contestam os termos vigentes no real-histórico), as palavras encontram um outro campo  semântico, ou seja, o campo de outra posição cultural. Assim, a expressão Samba-de-terreiro (ou samba - de- quadra, como em nossos dias se diz) - indica menos um conjunto de características de formas, e mais uma   posição semântica – a intenção de tornar presentes, o corpo, o calor humano a dinâmica da troca, recalcados pelos dispositivos de poder do Samba industrial ou do carnaval- espetáculo.  Vale aqui lembrar que isolada, a palavra terreiro significa tanto quintal como terra batida, mas também, e principalmente (na Bahia) o espaço de organização da Comunidade religiosa negra-brasileira: o egbé.        (adaptação e pesquisa de Wilson Rodrigues de Andrade- Produtor Editorial do Jornal/Revista - Folha Cultural)

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