COMPAZ/Folha Cultural (C/DEDAC...)
O Salgueiro (com seu
Samba-Enredo) chega pisando suave, riscando no asfalto os
passos de uma ópera bem carioca.
Uma obra em seis atos, embalada por um Samba em homenagem à nata da malandragem.
“A Ópera do Malandro” é aquele samba gostoso, com refrão que não dá vontade de parar de cantar!
Uma obra em seis atos, embalada por um Samba em homenagem à nata da malandragem.
“A Ópera do Malandro” é aquele samba gostoso, com refrão que não dá vontade de parar de cantar!
“É que eu sou
malandro, batuqueiro
Cria lá do morro do Salgueiro
Se não acredita, vem no meu Samba pra ver
O couro vai comer!”
Cria lá do morro do Salgueiro
Se não acredita, vem no meu Samba pra ver
O couro vai comer!”
A Música
inquietação na roda da Alma...
O Samba é coisa diferente. Quanto ao seu aspecto de
resistência, não há lugar para dúvidas, basta saber
‘ler’ ou escutar a história da música negra. Referindo-se à dança da mana-chica
campista, um pesquisador acadêmico não pôde deixar de observar que “a aparente
alegria da música brasileira é apenas inquietação: demostra os arrancos dos bandeirantes ambiciosos, o desespero do
escravo transplantado, o recalcado rancor do índio espoliado”. Sendo um
discurso tático de resistência no interior do campo ideológico do modo de
produção dominante – o perpassar por ambigüidades, avanços e recuos,
característicos de todo discurso dessa ordem – Portanto, o Samba é ao mesmo
tempo um movimento de continuidade e afirmação de valores culturais negros.
O Samba
na condição de Arte de Cultura Negra...
É no interior deste lugar paralelo que o Samba pode ainda em nossos dias,
em 2016, numa prática de resistência cultural negro-popular. A margem dos
circuitos da produção da indústria cultural dissemina-se uma multiplicidade de
lugares, onde a produção musical se dá de forma selvagem ou chorada (como antes
o Lundu ou com o Maxixe), em oposição à formulas polidas, estas prescritas pela
lei do mercado. Uma boa amostra disto é a posição reativa de muitos sambistas,
assim citados veteranos: Manacéia,
Aniceto, Casquinha, Mijinha, Monarca, Dona Ivone Lara, Alvarenga. O Samba, entretanto, é muito mais do que
uma peça de espetáculo, com mal definidas compensações financeira. O Samba é o
meio e o lugar de uma troca social, de expressões de opiniões, fantasias e frustrações culturais. De continuidade de uma fala (negra) que se resiste, cheia
de conteúdos, à sua expropriação cultural. A produção de nosso Samba ainda tem
lugar no interior de um universo de sentido alternativo, cujos processos
fixados partem da cultura negra-brasileira. Sua geografia, no espaço utópico (
não é mero sonho ou devaneio nostálgico,
mas a instauração ‘filosófica’ de uma ordem alternativa, onde se contestam os
termos vigentes no real-histórico), as palavras encontram um outro campo semântico, ou seja, o campo de outra posição
cultural. Assim, a expressão Samba-de-terreiro (ou samba - de- quadra, como em
nossos dias se diz) - indica menos um conjunto de características de formas, e
mais uma posição semântica – a intenção
de tornar presentes, o corpo, o calor
humano a dinâmica da troca, recalcados pelos dispositivos de poder do Samba
industrial ou do carnaval- espetáculo.
Vale aqui lembrar que isolada, a palavra terreiro significa tanto
quintal como terra batida, mas também, e principalmente (na Bahia) o espaço de organização
da Comunidade religiosa negra-brasileira: o egbé. (adaptação e pesquisa de Wilson
Rodrigues de Andrade- Produtor Editorial do Jornal/Revista - Folha Cultural)
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