sexta-feira, 6 de maio de 2016

Via C/Folha Cultural/FC   
  
Mãe. G. Ghiaroni*


Mãe eu volto a te ver na antiga sala
Onde uma noite te deixei sem fala
Dizendo adeus como quem vai morrer.
E me viste sumir pela neblina,
Porque a sina das mães é esta sina:
Amar, cuidar, criar, depois... perder.

Perder o filho é como achar a morte.
Perder o filho quando, grande e forte,
Já podia ampará-la e compensá-la.
Mas nesse instante uma mulher bonita,
Sorrindo, o rouba, e a velha  mãe aflita
Ainda se volta para abençoá-la.

Assim  parti, e nos abençoaste.
Fui esquecer o bem que me ensinaste,
Fui  para  o mundo me deseducar.
E tu ficaste num silencio frio,
Olhando o leito que eu deixei vazio,
Cantando uma cantiga de ninar.

 Hoje  volto coberto de  poeira
E  te encontro   quietinha na cadeira
A cadeira  pendida  sobre o peito.
Quero beijar-te a fronte, e não me atrevo
Quero acordar-te, mas não sei se devo,
Não sinto que me caiba este direito.


O direito de dar-te este desgosto,
De te mostrar nas rugas do meu rosto
Toda a miséria que me aconteceu.
E quando vires  a expressão horrível
Da minha máscara irreconhecível
Minha voz rouca murmurar: “sou eu!”.

Eu bebi nas tabernas dos cretinos,
Eu brandi o punhal dos assassinos,
Eu andei pelos braços dos canalhas.
Eu fui jogral em todas as comédias,
Eu fui vilão  em todas as tragédias,
Eu fui covarde  em todas as batalhas.


Eu te esqueci: as Mães são esquecidas.
Vivi a vida, vivi muitas vidas,
E só  agora,  quando chegou ao fim,
Traído  pela ultima esperança,
E só agora  quando a dor me alcança
Lembro quem nunca se esqueceu de mim.

 Não! Eu devo voltar ser esquecido.
Mas que foi? De repente ouço um ruído;
A cadeira rangeu; é tarde agora!
Minha mãe se levanta abrindo os braços
E, me envolvendo num milhão de abraços,
Rendendo graças, diz: “Meu filho!”, e chora.

E  chora e treme como fala e ri,
E  parece que Deus entrou aqui,
Em vez de o último dos condenados.
E o seu pranto rolando em minha face
Quase é como se o Céu me perdoasse,
Me limpasse de todos os pecados.

Mãe  nos teus braços eu me transfiro.
Lembro que fui criança, que fui puro.
Sim, eu tenho Mãe! E esta ventura é tanta
Que eu compreendo o que significa:
O filho é pobre, mas a Mãe é rica!
O filho é homem, mas a Mãe é Santa!

 Santa que eu fiz envelhecer sofrendo,
Mas que me beija como agradecendo
Toda a dor que por mim lhe foi causada.
Dos mundos onde andei nada te trouxe,
Mas tu me olhas num tão doce
Que, nada tendo, não te falta nada.

Dia das Mães! É o dia da bondade
Maior que todo o mal da Humanidade
Purificada num amor fecundo.
Por mais que o homem seja um ser mesquinho,
Enquanto a Mãe cantar junto a um bercinho
Cantará a esperança para o Mundo.

 Versos de: * Giuseppe Ghiaroni, o poeta de Paraíba do Sul /RJ - poeta e jornalista, no tempo  dele – era profissão  de quem não a tinha / Ghiaroni  nome de ressonância nacional , seus  versos passaram a ser declamados  em todo o país , outros receberam música  ( eles que só eram melodias ) e viraram sucesso nas vozes dos nossos melhores cantores.
                                                           Reprodução para FC. /WRA-15.


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