sexta-feira, 7 de março de 2025

 Nossa homenagem. 49 sem Bertha Lutz: quem foi a cientista e ativista revolucionária. *WRA/mar.25.

Direitos ao Voto, ao Trabalho digno, à licença maternidade, a uma cadeira na Sala de Aula e à possibilidade de protestar contra qualquer retrocesso são inquestionáveis, e podem parecer corriqueiro à Mulher do Século XX. No entanto, essas garantias não surgiram de uma hora para outra. A luta e a conquista de emancipação feminina são vitórias que têm as mãos de mulheres da primeira metade do Século XX. Entre elas, da paulistana Bertha Lutz /1894-1976. Ela que foi fundamental para que tudo isso ocorresse.

“Recusar à mulher a igualdade de direitos em virtude do sexo é renegar justiça a metade da população” Bertha Lutz


Início da luta

Um ano após seu retorno ao Brasil, Bertha Lutz criou a Liga para Emancipação Intelectual da Mulher, que foi o pontapé inicial para a criação futura da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino /FBPF. Em 1921, a Liga iniciou a prática de enviar cartas aos políticos da época solicitando projetos que possibilitaram às mulheres o direito de voto.

No ano de 1932, o ex-presidente, Getúlio Vargas instalou o novo código eleitoral que permitia o voto feminino no Brasil com esta abertura, Bertha foi deputada da Câmara Federal em, 1936, onde lutou pela igualdade salarial entre homens e mulheres, pela licença maternidade e redução da jornada de trabalho. Entretanto, em 1937, Vargas instalou o Estado Novo e fechou o Congresso Nacional do Brasil - que afetou o direito ao voto feminino.

Em 1945, a ativista Bertha Lutz - foi enviada à Conferência de São Francisco nos Estados Unidos da América do Norte - Encontro que resultou na criação da Organização das Nações Unidas /ONU, na ocasião de 850 delegados - somente 6 eram mulheres, e Bertha sendo uma delas lutou para que a Carta da ONU incluísse a igualdade de gênero, e obteve sucesso. Já em 1965, ela viu o voto feminino ser igualado ao masculino, até então somente mulheres assalariadas podiam votar.

Ao completam-se 49 anos de falecimento da bióloga, zoóloga, educadora, advogada e ativista e, que colaborou para mudar a história da mulher no Brasil. De acordo com estudiosas da vida e obra de Bertha Lutz, o legado dela, embora seja marcado de lutas, é pouco divulgado. “Bertha Lutz deveria ser divulgada nas Escolas o tempo inteiro. Todas precisamos conhecer as lutas que fizeram com que chegássemos até aqui”, diz a bióloga, Silvana Calixto, a qual é também museóloga do **Instituto Adolpho Lutz/IAL, em São Paulo.

Pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz, a bióloga, Magali Romero Sá reforça que se faz necessário que toda a sociedade conheça a trajetória de Bertha Lutz em vários campos menos divulgados do que a luta dela pelo voto feminino. “Bertha Lutz - a responsável, por exemplo, pela inclusão do discurso de igualdade de gênero na Carta da ONU, em 1945. Ela que conseguiu incluir a palavra ‘mulheres’ na Carta.”

*Bertha Lutz na atualidade

A *cientista escreveu dois livros, “Brazilian Species of Hyla” e “A função Educativa dos Museus” em 1973. Um ano antes de seu falecimento, em 1975, Lutz - compareceu à ONU, convidada pelo Itamaraty, para uma Conferência do Ano Internacional da Mulher. Bertha doou seus acervos para o Museu Nacional, contudo esses Documentos queimaram no incêndio catastrófico ocorrido em 2018. Atualmente, o acervo restante de Bertha Lutz continua sob a guarda da UFRJ, no Museu Nacional.

Em sua Homenagem, o Senado Federal do Brasil criou o Diploma Bertha Lutz, agraciando as mulheres que tenham oferecido contribuições relevantes para o direito da mulher e igualdade de gênero no Brasil. O projeto que deu origem ao Diploma veio da senadora Emília Fernandes e foi consolidado em 1998. Para a decisão de quem deve receber o referido Diploma, é feita, anualmente, uma Sessão no Senado em especial para esse Debate, tendo sido escolhidas cinco mulheres para receber o Diploma Bertha Lutz. As indicações e a escolha das premiadas é feita pelo Conselho do Diploma Mulher-Cidadã Bertha Lutz, composto por um representante de cada partido político com assento no Senado Federal.

“Eu queria reforçar que as mulheres hoje continuam na luta. Temos várias Deputadas, várias mulheres em papéis importantes que lutam pelos direitos das mulheres. A luta ainda continua”, reafirma Magali Romero Sá.

Faculdade em Paris

A ativista Bertha Lutz, conforme explicam as pesquisadoras, se formou em ciências naturais na Universidade de Paris em 1918, e, posteriormente, em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro /UFRJ, em 1933. “Ela queria mesmo aprender com o pai”, diz Silvana Calixto. Em sua carreira como bióloga, ajudou a catalogar mais de 4 mil espécies de anfíbios, espécie na qual ela se especializou na Faculdade, e foi de extrema importância para os estudos de botânica brasileiros. 

Bertha foi criada na Europa, sua infância e adolescência foram no continente, e assim, a cientista cresceu em contato com o modelo feminista e político do local. Quando retornou ao Brasil em, 1918, Bertha prestou concurso público e se tornou Secretária e Pesquisadora do Museu Nacional do Rio de Janeiro. Ela foi a segunda mulher a ocupar o cargo de serviço público no Brasil e isso gerou um choque de realidade na bióloga. “A Bertha lutou pela igualdade do voto, diminuição de carga de trabalho. Ela lutou, por exemplo, pela licença maternidade de 3 meses. Os direitos que temos hoje têm muito dela”, diz Silvana Calixto. “Ela queria aprender com o pai. Ela pedia para ficar com o pai. Nas correspondências, ele dizia que não era para ela voltar ainda para o Brasil. Mas acabou voltando. Além de bióloga, Bertha formou-se em Direito. Tinha facilidade com línguas”, afirma a pesquisadora do **IAL.

As pesquisadoras entendem que Berth Lutz abriu os olhos dos brasileiros para a situação da Mulher. “As lutas sobre as questões de gênero têm muito do legado dela.  Ela foi inteligente para convencer os políticos. Bertha Lutz não se casou nem teve filhos. Viveu pela luta e pela ciência. Seu irmão, Gualter, também não se casou e não teve filhos, e faleceu em, 1966.

Em 2021, a HBO lançou o Documentário “Bertha Lutz — A Mulher na Carta da ONU” que conta sobre o importante legado da bióloga e ativista feminista brasileira em relação para com as questões de gênero, para que fossem contempladas na Carta base da Organização das Nações Unidas /ONU. Segundo as diretoras do filme, a argelina Fátima Sator e a norueguesa Elise Luhr Dietrichson, em entrevista, a ideia do documentário surgiu a partir das pesquisas de ambas sobre Bertha ao encontrarem uma série de cartas escritas pela bióloga. 

FC/Pesquisa e Produção Editorial por: Wilson Rodrigues de Andrade. 8- Março - 2025


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