Tradição colonial do Brasil não aceita o Jesus histórico, que andava com pobres, diz Leonardo Boff. Publicado por Lucas Mendes/ 5 de fev. de 2020.
O
teólogo Leonardo Boff vem defendendo o samba-enredo da Estação
Primeira de Mangueira, com o qual a escola vai passar pela Avenida no Carnaval
de 2020. “Eu sou da Estação Primeira de Nazaré/ Rosto negro, sangue índio,
corpo de mulher/ Moleque pelintra no buraco quente/Meu nome é Jesus da Gente”,
diz a letra, dos compositores Manu da Cuíca e Luiz Carlos Máximo. A composição
traz uma referência clara ao presidente Jair Bolsonaro: “Favela, pega a
visão/ Não tem futuro sem partilha/ Nem messias de arma na mão”. Para
Boff, a Verde-e-Rosa, que no ano passado foi campeã também com um enredo de
cunho social (“História pra ninar gente grande”), retrata o Cristo histórico
negado pela tradição e por setores que se dizem cristão, mas têm “uma fé só
cultural, e não uma fé no coração, como mudança de vida, como orientação de
vida”. “Esse Jesus que enxuga as lágrimas, que abraça as crianças, que conversa
com a prostituta, pobre entre os pobres, o único verdadeiro e real, que os
quatro evangelhos testemunham, esse é o Jesus assumido pela Mangueira. Os
cristãos e bispos tradicionalistas, a TFP etc., não aceitam Jesus assim, porque
se aceitassem tinham que mudar de vida, teriam que auxiliar os pobres, lutar
pela fraternidade, por uma sociedade mais justa, menos desigual”, diz. Na
opinião do Teólogo, o enredo da escola “atualiza a figura de Jesus para a nossa
situação, que é muito semelhante à situação da Galileia, da Palestina, na qual
vivia o Jesus histórico”. Para Boff, a parcela da sociedade que, embora
se professe cristã, apoia um governo que defende armar a população, por
exemplo, tem a visão “do cristianismo tradicional, colonial, que nos foi
trazida pela colônia, visão de que Jesus é o rei, o senhor, é Deus, e todos nós
sendo humilhados”. São esses os setores que acusam o enredo da Mangueira de
“blasfêmia”. Essa tradição do período colonial nunca apresentou ao povo o Jesus
real, “crucificado, que apanhou como um escravo foi humilhado e perseguido,
porque, lógico, isso o identificava com as vítimas”. “Esse Jesus, testemunhado
nos quatro evangelhos, esse é apresentado na Mangueira”, afirma Boff, em
entrevista à RBA.
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